Em uma lua cheia, nada melhor do que falar sobre a lua. No mapa natal, ela representa de onde viemos, a bagagem emocional que carregamos durante a vida toda e os pilares sob os quais construímos nossa identidade. Se o sol é quem somos diante dos holofotes, a lua é quem somos na escuridão de nossos quartos quando sabemos que ninguém nos enxerga. É aquele lado de nós que está sempre presente, mas que só quem conhece vê. É o ponto em que nos sentimos em casa dentro de nós, o lugar onde chegamos depois de um dia cheio, tiramos os sapatos, tiramos as meias, tomamos um banho quentinho e entramos debaixo das cobertas. É o colo que queremos e o colo que sabemos dar porque assim aprendemos. É a nossa versão crua, sem tempero, sem cozimento e sem enfeites.
Quando eu nasci a lua estava em capricórnio, assim como ela está agora enquanto escrevo. Costumo me sentir inspirada para escrever quando ela passa por ali porque me sinto mais em contato comigo mesma. Ela percorre o zodíaco inteiro em aproximadamente um mês, então comece a notar como se sente durante os dois dias que ela passa pelo signo em que ela está no seu mapa natal, talvez isso te ajude a entender melhor como a sua funciona. Em contraste, quando ela passa por câncer, o signo oposto a capricórnio, é quando me sinto mais instável e inconstante. No ponto mais longe da minha casinha interna, me sinto tão fora de mim que não consigo lidar comigo mesma. Fico irritada, carente e volátil. Aprendo muito sobre mim também nesses momentos e a melhor saída é sempre me voltar para dentro e ouvir o que minha criança interior me pede com seu choro.
Apesar de eu ser obviamente virginiana, dentro de mim vive uma cabrita velha que sempre está comigo e me aconselha quando mais preciso dela. Capricórnio é um signo muito voltado para as conquistas e como ele chega até mim através da minha lua é no meu emocional que vou à guerra, lutando batalhas intensas contra meus próprios monstros com unhas, dentes e sangue nos olhos. Isso se amplifica por estar na minha casa 8, o quarto escuro onde habita o nosso inconsciente, nossos medos e nossa intimidade.
A casa onde está a lua em nosso mapa fala sobre onde nos sentimos mais à vontade, onde nos mostramos mais vulneráveis e consequentemente onde mais nos sentimos frágeis. Os golpes aqui são os mais doloridos, mas os carinhos também são os mais acolhedores. Compartilho várias características com outras pessoas que também tem a lua em capricórnio, mas por ela morar na minha casa 8 fica guardada à sete chaves dentro de um baú dentro de outro baú dentro de outro baú embaixo da terra embaixo de camadas e mais camadas de concreto em um lugar onde só eu posso encontrar. É quando todas as luzes se apagam e reina o silêncio da madrugada que me sinto mais em casa, quando me sinto completamente sozinha.
A lua em capricórnio me dá a noção de que preciso ser responsável pelas minhas emoções e então trabalho constantemente para desenvolver minha maturidade emocional. Me levo à sério, às vezes até demais, me cerco de muralhas para me proteger e acabo ficando presa lá dentro, isolada do mundo. Meu autocontrole me permite dominar meus instintos, mas também me faz enrijecer e esquecer que os tenho, me desesperando quando vejo as coisas saindo do planejado. Preciso mais do que tudo sentir que a casa que construo dentro de mim é firme, sólida e estável. Quando me sinto exposta o chão desaparece sob meus pés e me encontro em queda-livre.
Com o tempo fui aprendendo que meus instintos de autoproteção muitas vezes mais me atrapalham do que me ajudam porque me impedem de me conectar verdadeiramente, recuando ao menor sinal de vulnerabilidade. Hoje sei que quando algo tem o potencial de me machucar minha reação instintiva é a de ou me recolher dentro da minha carapaça como uma tartaruga ou me vestir com espinhos que se dizem ser autossuficiência, levantando o queixo e agindo como se nada pudesse me abalar. Ambas as reações fazem com que eu me sinta sozinha dentro de mim e então quando percebo as muralhas se levantando as empurro com todas as minhas forças para que não parem em pé. As chuto, gritando e chorando, mas não deixo que se levantem porque hoje sei que é melhor para mim me abrir mesmo correndo o risco de me machucar do que me impedir de viver por medo.
Podemos perceber quando não estamos abastecendo nossa lua do seu descanso necessário quando começamos a ficar voláteis demais. Cada pessoa tem a sua forma de se incomodar consigo mesma e esse incômodo serve como um alerta para cuidarmos melhor de nossa criança interior. Eu, pessoalmente, percebo que preciso me dar atenção quando tudo começa a me irritar. Barulho, luz e qualquer pessoa se tornam um inferninho até que eu finalmente entenda que a luz incomoda porque preciso de escuro, o barulho incomoda porque preciso de silêncio e as pessoas incomodam porque preciso ficar sozinha. Ponho meus fones de ouvido, as pernas na parede, fecho os olhos e me deixo mergulhar. Nessas horas toda a carga emocional que meu lado capricorniano guardou na mochila dizendo que consegue aguentar vem à tona no choro torrencial que precisava ser chorado para tirar de mim o que não me serve mais.
Capricórnio tende a ser muito certo de si, mas por estar na minha casa 8 esse meu lado se mostra muito mais forte em momentos de crise, na hora do vamos ver. É quando eu mais preciso de apoio que encontro o maior de todos em minhas próprias pernas e me levanto certa de que não importa quantas vezes eu caia, sempre consigo me levantar porque assim eu decido. A resiliência capricorniana chega como rocha quando o chão por onde ando ameaça desabar.
Só de ver como falo sobre já dá para perceber que minha lua flui com muito mais facilidade do que meu sol. Ela é o ponto onde tudo em meu mapa converge, recebendo vários aspectos. Todos os planetas que se relacionam com nossas luas natais deixam suas marcas nas nossas reações emocionais, e os planetas lentos em geral trazem cargas de intensidade que muitas vezes fogem da nossa compreensão porque envolvem questões muito maiores do que nós.
Minha lua recebe conjunções de netuno e urano (formando um stéllium), então é impossível falar sobre ela sem falar também sobre eles, dois monstrengos que fazem tanta parte da minha personalidade que é como se fossem minhas sombras. Netuno é o planeta da intuição, da fantasia, do sonho, da neblina que cobre a realidade para que possamos ver além do que é visível, ele me dá uma sensibilidade muito grande para tudo aquilo que não precisa fazer sentido, abre meus poros e me permite sentir o que me cerca como se fosse meu, o que nem sempre é fácil, mas ao mesmo tempo me permite viver a magia do mundo porque mais do que uma capacidade ela é uma necessidade do meu ser. É ele que dá porosidade à minha fortaleza, impedindo que ela seja impermeável.
Além dele, também tem ali urano, o planeta da rebeldia e originalidade, da lógica, dos cortes bruscos e das mudanças de direção. No seu abraço, ele me dá choques que me despertam para a vida, me traz todo o sufoco necessário para que eu abra mão de uma realidade estática. Com ele ali, meus sentimentos são turbulentos e agitados e na maior parte das vezes chegam mais rápido do que a compreensão, mas também chegam com rapidez até mim percepções que nem sempre sei de onde vêm, mas que eventualmente se mostram reais, é como anteninhas que captam frequências que meus ouvidos não conseguem ouvir.
Foi só depois de entender essas influências que consegui ter um pouco de paz de espírito em relação às tsunamis de sentimentos que abalam todo o meu mundo interior porque agora sei, mesmo que nem sempre entenda, de onde elas vêm. Aceito que eventualmente vou entender e me abro para aceitar a realidade daquilo que desconheço, sabendo que minha lua realista e pragmática vai conseguir transformar tudo o que experiencio em sabedoria.
Entender o que nossa lua demanda é essencial para que consigamos ter o abastecimento interno necessário para que nosso sol consiga brilhar em toda sua glória. É ela que vai ditar, de acordo com o estado de cuidado com o qual está sendo mantida, em quais camadas vamos vivenciar todo o resto de nosso mapa e todas as situações com as quais nos depararmos. Quando estou abalada emocionalmente todo o resto descarrilha, me torno rígida, impermeável, intolerante e incapaz de lidar comigo mesma, mas quando estou exercendo minha autossuficiência emocional e me dando a manutenção que preciso tenho determinação para enfrentar qualquer obstáculo e a compreensão de que todo processo de amadurecimento leva tempo.
Gosto de criar imagens e historinhas que representem as composições astrológicas porque acredito que enxergar planetas como personagens facilita muito a visualização dessas características em nosso cotidiano depois. Num belo dia, após uma sessão caprichada de yoga, finalmente consegui visualizar essa parte do meu mapa como se fosse uma pintura.
A lua é uma cabra velha que mora no topo de uma montanha. Essa montanha fica em uma pequena ilha perdida dentro da escuridão cavernosa do submundo, a casa 8, que se estende infinitamente em uma eterna vastidão de nada. O oceano que a cerca é netuno, ora sereno e tranquilizador trazendo para a cabra alimento e conforto, ora revolto e turbulento, se erguendo em tsunamis gigantescas contra a pequena ilha. De dentro do submundo não se consegue ver o céu estrelado, mas se sente na pele o ar carregado daquela eletricidade que precede tempestades, é urano. Vez ou outra se ouve o eco dos trovões que ressoam lá longe e num susto raios caem do céu em clarões que inundam a ilha de luz, permitindo que por um breve segundo ela consiga enxergar o espaço que lhe cerca pelo que realmente é. Quando ali constrói uma casa, a cabra tenta se refugiar da tormenta lá dentro e morre de medo, mas quando sobe o mais alto que consegue, senta e se permite simplesmente apreciar o caos que a cerca, ela encontra em seus dolorosamente adquiridos calos a lembrança de que em meio à tempestade ela é e sempre será resistente. Depois que tudo passar, ela descerá a montanha em meio aos destroços e se banhará nas águas agora calmas, se lavando de todos os resquícios do que já foi e vendo o que, assim como ela, permanece.
Por hoje é só,
lembre de beber bastante água e de se olhar no espelho com carinho.
Se você quiser entender mais sobre a sua forma específica de ser, venha fazer uma sessão comigo, lá vamos conectar todas as pecinhas do quebra-cabeça que é o seu mapa e ver como ele funciona em sua vida. Gostou de ler sobre mim e ficou com vontade de ler também sobre você? No Livrito eu escrevo de forma detalhada e aprofundada sobre o seu mapa, explicando da melhor forma que eu conseguir tudo o que vejo, trazendo reflexões e te ajudando a visualizar as várias partes que te compõem.
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