É possível que você tenha ouvido muita baboseira por aí que te fez desacreditar na astrologia, seja no rolê ou na internet. A verdade é que primeiramente não dá para você não acreditar em astrologia porque ela não é uma crença, simples assim. Você pode não conhecer, não entender, não gostar ou simplesmente não ter o menor interesse, tudo totalmente válido inclusive. Agora acreditar ou não nem deveria entrar em pauta porque não é nesse campo que ela entra. Segundamente, muitas dessas coisas que você ouviu provavelmente não vieram de alguém que realmente estudou astrologia, ou seja, não dá para invalidar um conhecimento inteiro por causa de alguém que não sabia direito sobre o que estava falando, mesmo que tenha sido com a melhor das intenções.
O problema é que muitas vezes as pessoas misturam tudo e usam a astrologia junto com outras áreas sem explicar que ela por si só se basta. Apesar de poder se relacionar com o mundo místico, ela, em si, não é mística, é um conhecimento racional adquirido com muito estudo e prática. Essa aura de magia que a envolve vem na sua maioria de um lugar de desconhecimento, porque convenhamos, a “linguagem dos astros” soa muito poética e mágica mesmo, mas quanto mais descobrimos o que ela é e toda a história que tem, mais percebemos que o que ela realmente é, é registro. Um mapa astral, apesar de parecer só um desenho com vários símbolos e números aleatórios, é o registro de um momento que aconteceu, trazido por tantos outros momentos anteriores e precursor de tantos outros momentos após.
Ela nada mais é do que a observação da natureza em funcionamento e da relação entre os eventos que acontecem no céu e os que acontecem na Terra, um estudo cultivado e passado adiante por milênios. Desde as primeiras civilizações humanas o céu era observado pois era a maior referência que se tinha, muitas vezes a única. É fácil esquecermos disso morando em cidades cheias de luzes artificiais, com relógios, calendários e dias atarefados, mas imagine como devia ser experienciar o céu brilhando intensamente com a lua, os planetas e tantas e tantas estrelas numa época em que não havia nada disso. Assim, é fácil percebermos o quão fascinante e até assustador devia ser acompanhar noite após noite a lua mudando de fase, se aproximando ou se afastando e também os pontinhos brilhantes que com o passar do tempo se moviam no céu.
A astrologia começa como sobrevivência, indicando as mudanças nas estações necessárias para o cultivo da terra. Conforme foi-se deixando o nomadismo para trás e grupos começam a ficar no mesmo lugar, as mudanças no céu se tornam mais evidentes e entender o clima se torna essencial para saber quando plantar e quando colher. O acompanhamento dos ciclos celestes era registrado por meio de desenhos e até mesmo construções que existem até hoje, como o Stonehenge. Essas observações foram se tornando pouco a pouco um conhecimento extraordinariamente extenso, especialmente após a invenção da escrita, que possibilitou um registro mais exato e a troca entre diferentes civilizações.
Diferentes culturas tiveram formas diferentes de entender e utilizar a astrologia, nessa época ainda muito associada à mitologia, e a interação entre elas ampliou imensamente o conhecimento astrológico. Cada região tinha as suas próprias características e necessidades, e com isso um foco celeste diferente. No Egito, por exemplo, a estrela Sirius era muito observada por indicar os períodos de seca e enchente do rio Nilo, necessários para saber quando a terra estaria fértil, enquanto para outras regiões ela não tinha tanta relevância. Nem sempre essas interações entre os povos eram pacíficas, e como sabemos a história é contada pelos vencedores. Nas guerras muitos documentos, registros e monumentos foram destruídos, com culturas inteiras sendo apagadas ou assimiladas e incorporadas a outras. Assim, muito do conhecimento astrológico antigo é fragmentado e de origem desconhecida, com várias ramificações diferentes (como exemplo temos as várias representações de divindades associadas ao planeta Vênus, mesmo que todas de um jeito ou de outro abordando a mesma ideia).
A astrologia sempre esteve presente entre os líderes, ricos e nobres e o próprio calendário que conhecemos é construído em cima do conhecimento astrológico. Faraós, imperadores, reis, papas, sacerdotes, sábios e filósofos usavam e muito a astrologia. Então por que nunca ouvimos falar nela? Assim como tantos outros conhecimentos banidos pela Igreja, também foi ela, apesar de ela ser amplamente utilizada pelo clero (várias igrejas antigas têm até hoje zodíacos estampados nas suas paredes e tetos, e a própria Bíblia tem várias referências astrológicas). Assim se faz a divisão entre astronomia e astrologia, categorizando uma como boa e uma como má, digamos toscamente assim. Sendo oficialmente banida, ela continuou viva informalmente e em segredo, tendo seu nome oculto dos registros, mas ainda presente. Depois disso, com o Iluminismo e a glorificação da razão absoluta, a astrologia termina de ser ridicularizada como misticismo.
Foi só pelo século XX que ela voltou a circular, trazida de volta à luz por psicólogos, ou seja, a Astrologia Individual é bem recente se comparada com toda a sua história. Antes disso, ela era utilizada de forma mais ampla, como na vertente da Astrologia Mundial (que estuda os movimentos… Bom… Mundiais, e para isso precisa ser analisada dentro de todo um contexto histórico, político, geográfico e social, entre outros). Antes, apenas os mais ricos podiam ter os seus mapas natais calculados e interpretados, enquanto o povo, quando tinha acesso, era a um conhecimento muito raso. Com o surgimento da imprensa começaram a circular os horóscopos como conhecemos hoje, mas que não eram escritos por astrólogos, ou seja, eram genéricos e incorretos mesmo, criados para gerar identificação do público e entretenimento, não informação. Vivemos agora algo parecido com isso.
Esse foi um breve passeio pela história de astrologia como a aprendi, explicada aqui de forma rasa, superficial e cheia de buracos mesmo, sem a intenção de ensinar ninguém, mas só para mostrar que existe um contexto muito, mas muito maior do que parece à primeira vista. Meu professor, Robson Papaleo, costuma dizer que pessoas são frutos da estação como mangas, abacaxis e morangos, e assim como é possível determinar as características e necessidades de uma planta por saber de onde ela veio, é possível entender uma pessoa sabendo sob quais condições ela nasceu. Como falei antes, astrologia é a observação contínua da natureza em funcionamento, e nós, por mais que esqueçamos disso, também somos natureza.
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